terça-feira, 12 de agosto de 2014

Discussões acerca da Cannabis no Brasil

 

Gustavo era um menino de 1 ano e 4 meses que sofria de uma doença rara, a síndrome de Dravet, também conhecida como epilepsia mioclônica severa da infância. Diante do tratamento insatisfatório e do prognóstico ruim, os pais de Gustavo recorreram ao Ministério da Saúde para que seu filho tivesse direito ao tratamento com Canabidiol, uma substância encontrada na maconha e recomendada à pacientes com epilepsia. Eles chegaram a receber a autorização da Anvisa para importar o remédio mas, após 10 dias de uso, Gustavo morreu devido a complicações da doença. Algumas pessoas acreditam que a burocracia e a demora na liberação do remédio na alfândega brasileira possam ter contribuído para este resultado. A Anvisa tem discutido a possibilidade de retirar o Canabidiol da lista das substâncias proibidas no Brasil, mas ainda não chegaram a uma conclusão. A questão que fica é a seguinte: a maconha é apenas uma droga ilícita e seu uso deve ser totalmente proibido ou ela é uma substância como qualquer outra, devendo ser estudada e utilizada para o bem das pessoas? 

Segundo artigo do Dr. Lester Grinspoon, professor de Harvard, a Cannabis é nativa da Ásia central há mais de 10.000 anos, tendo seu primeiro registro como medicamento datado de 5.000 atrás, durante o reinado do imperador chinês Chen Nung. Trazida para o Ocidente, ela foi utilizada como medicamento e amplamente estudada até a década de 1960, quando seu uso recreativo começou a incomodar. Dessa forma, começaram a surgir as leis restritivas nos Estados Unidos e sua proliferação pelos outros países. Atualmente o porte, uso ou cultivo da maconha continua proibido em grande parte dos países do mundo, mas já encontramos novos estudos quanto ao seu uso medicinal e, até mesmo, sua completa liberação – como no caso do Uruguai. O que reacende o debate e demonstra que a questão das substâncias ilícitas não é tão simples assim.

No Brasil esta questão já chegou à Câmara dos Deputados através do Projeto de Lei 7270/2014 apresentado pelo Deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), que tem o objetivo principal de legalizar e regulamentar a produção e o comércio da Cannabis e seus derivados em todo o território nacional. Além disso, estabelece a redução da violência e da criminalidade relacionadas ao tráfico de drogas ilícitas, assim como a promoção e facilitação da reinserção social das pessoas nele envolvidas. Por fim, realiza modificações na lei 11.343, de 23 de agosto de 2006, que institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD), entre outras questões. Ainda não se sabe qual será o destino deste projeto de lei, que aguarda a apreciação do plenário, mas a sua presença no cenário político aponta para novas concepções acerca das substâncias ilíticitas, e da Cannabis em especial. O que nos parece um grande avanço, já que o debate é sempre preferível à aceitação acrítica da realidade. 

 *O vídeo desta postagem é da TV Folha, pertencente ao jornal Folha de S. Paulo.


 

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