A Reforma Psiquiátrica foi (e tem sido) um
processo bem sucedido no sentido de redefinir a assistência e tratamento em saúde mental. Seu avanço tem sido também um avanço na construção do próprio Sistema Único de Saúde (SUS),
na medida em que a rede de saúde mental tem se aproximado cada vez mais dos
princípios de acessibilidade, universalidade e eqüidade. Construiu-se um novo
paradigma de cuidados que direciona toda a política de saúde mental do Brasil:
a ideia de atenção psicossocial.
A criação de novos dispositivos de cuidado em saúde mental resultou numa redefinição da psiquiatria em suas bases: a psiquiatria centrada no hospital e na figura do médico foi substituída por uma psiquiatria de natureza comunitária e territorial.
Entretanto, é inegável a percepção da não-adesão
de parte expressiva da comunidade de psiquiatras ao atual modelo de atenção à
saúde mental. Alguns pontos trazidos pelos psiquiatras como conseqüências geradas pelo processo de desinstitucionalização são a baixa competitividade no mercado, as
condições oferecidas de trabalho e remuneração.
Partindo desse contexto, a Associação Brasileira
de Psiquiatria (ABP) criou um documento chamado “Diretrizes
para um Modelo de Assistência Integral em Saúde Mental no Brasil”,
que como o próprio título deixa transparecer, trata-se de uma alternativa de
como deveria ser a política de saúde mental no Brasil segundo os psiquiatras.
Apesar desse documento ser de 2006, ele ainda é defendido e atualizado em
discussões e congressos realizados pela ABP. Como um exemplo da atualidade
desse documento, o Conselho Federal de Medicina, por meio da Resolução CFM nº 1952/2010, adotou essas
diretrizes como “instrumento norteador das políticas de saúde mental no país”.
A criação das Diretrizes
para um Modelo de Assistência Integral em Saúde Mental no Brasil da
ABP parte da crítica de que, anos após a promulgação da Lei 10.216, não ocorreu a criação de um modelo
assistencial que atenda as reais necessidades das pessoas que padecem de
transtornos mentais. Defendendo tratamentos como a eletroconvulsoterapia (ECT),
a ABP elabora sua própria rede de atenção à saúde mental, partindo do princípio
de “prevenção da doença mental” através de sua “detecção precoce”.
Ao percebemos o fator ideológico/político presente
nesse documento - subordinar toda a rede de saúde mental à medicina e o lugar
central do médico - devemos questionar e refletir qual o verdadeiro papel do psiquiatra na atual
política de saúde mental do Brasil.
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