O consumo indiscriminado de medicamentos em geral, e de psicotrópicos em particular, representa um grande problema de saúde pública. O modelo de fiscalização de medicamentos controlados (tarja preta) usado atualmente baseia-se somente na publicação de Regulamentos Técnicos, o que dificulta o cumprimento de metas e acordos internacionais de monitoramento e controle de consumo desses produtos.
Desse modo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), visando fortalecer a ação fiscalizatória da venda e distribuição de medicamentos controlados, criou um sistema de informação que permite o controle efetivo, em tempo real, das transações que ocorrem nas farmácias: o Sistema Nacional para Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), sistema de informação em saúde é um mecanismo de coleta, processamento, análise e transmissão da informação necessária para se planejar, organizar, operacionalizar e avaliar serviços em saúde; o mesmo pode ser aplicado para a vigilância sanitária. O SNGPC, implantado em 2007 e 2008, tem como objetivo o monitoramento da movimentação da dispensação (entradas e saídas) dos medicamentos sujeitos ao controle especial conforme o regime da Portaria nº SVS/MS 344/98 e Portaria SVS/MS nº 6/99, nas drogarias e farmácias comerciais do país. Desse modo, é possível identificar o comportamento de uso dessas substâncias e eventuais abusos.
A divulgação dos dados e das informações coletadas pelo SNGPC é de suma importância de tal modo que a Anvisa publica, semestralmente, o Boletim de Farmacoepidemiologia, um documento que expõe a análise da venda de medicamentos controlados no Brasil e apresenta recomendações para diminuir o abuso dessas drogas.
Dessa maneira, vamos apresentar a análise da venda desses medicamentos tendo como referência as três publicações do Boletim de Farmacoepidemiologia. Porém, antes que a façamos, devemos apresentar um limite dos dados presentes nessas publicações: eles são referentes à 62% das farmácias brasileiras, visto que somente esse número de farmácias aderiu ao SNGPC desde sua implantação.
Também foi divulgado o uso do cloridrato de fluoxetina e do cloridrato de metilfenidato, que são, respectivamente, um antidepressivo e um estimulante utilizado para o tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). No ano passado, 3,5 toneladas do antidepressivo e quase 175 quilos do estimulante foram consumidos. Na região sudeste, Belo Horizonte (2009 e 2010) e Vitória (2011) apresentaram os maiores registros no consumo de fluoxetina, chegando ao consumo de 160 mil mg/per capita.
Diante desses dados, esboçamos um questionamento não somente em relação ao uso exacerbado de medicamentos, mas também aos sistemas diagnósticos adotados que privilegiam o tratamento farmacológico.
De que modo estão sendo utilizados esses medicamentos para que tenhamos um aumento do número de vendas? Há de se questionar a eficácia da finalidade de tais remédios, além do uso feito devido aos seus efeitos secundários (temos como exemplo a fluoxetina, atualmente utilizada como um método para perder peso, uma vez que um dos seus efeitos colaterais é a inibição do apetite).
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