Com a máxima ‘toda doença
mental é, antes de tudo, uma doença cerebral’, Wilhelm Griesinger reforça, em
1845, a afirmação de que toda psicopatologia tem uma causa orgânica. Tal teoria
adquiriu maior impulso na década de 1950, através da descoberta de que alguns
medicamentos alteravam os níveis de neurotransmissores e, consequentemente, o
estado psíquico da pessoa. Importante destacar que esses medicamentos não
haviam sido desenvolvidos, inicialmente, para o tratamento do sofrimento
psíquico. Eles eram provenientes de remédios que tinham a finalidade de
combater infecções e se descobriu, casualmente, que um de seus efeitos era a
alteração de algumas substâncias químicas cerebrais.
Desde então, alguns
pesquisadores passaram a postular que a etiologia do sofrimento psíquico é um
desequilíbrio neuroquímico, sendo a causa definida pelos efeitos de alguns
psicofármacos. Temos como exemplo a depressão: defende-se que ela é causada
pela deficiência de serotonina no cérebro, uma vez que a descoberta de uma
droga chamada iproniazida, usada inicialmente para tratar pessoas com
tuberculose, tinha como efeito colateral o aumento dos níveis desse
neurotransmissor. E como não poderia deixar de ser, passou-se a defender que o
tratamento dessas doenças seja essencialmente medicamentoso. Ou seja, temos a
definição de uma causa a partir de efeitos casuais, e não de pesquisas
etiológicas. E sem contar que temos, ainda, a questão sobre o diagnóstico das
psicopatologias: qual instrumento é utilizado? Ele é válido clinicamente? Somos
obrigados então a questionar: os medicamentos podem ser considerados a única forma de tratamento?
Por esta razão, alertamos
aqui sobre o uso indiscriminado das drogas psiquiátricas. No Brasil, entre 2005
e 2009, observou-se o aumento de 44,8% de vendas (de R$647,7 milhões para R$
976,9 milhões) de medicamentos anti-depressivos, e de 2000 para 2004, houve o
aumento de 1020% de vendas de caixas de metilfenidato, estimulante usado no
tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.
Entretanto, mesmo diante
dessas problematizações, não podemos negar a relevância do uso de psicofármacos
na Saúde Mental. Para tal, em termos de políticas públicas, temos a Portaria nº1077/GM de 24 de Agosto de 1999, na qual estabelece o Programa para a Aquisição
dos Medicamentos Essenciais para a Área de Saúde Mental. Esse Programa faz
parte da Política Nacional de Medicamentos e é responsável por prescrever as
responsabilidades dos gestores do Sistema Único de Saúde nessa área, bem como
os recursos financeiros necessários para “complementar o tratamento daquelespacientes que necessitam de medicamentos para o controle dos transtornosmentais”.
No âmbito estadual, existe
em Minas Gerais o Plano Estadual de Estruturação da Rede de Assistência
Farmacêutica, que consiste na definição de um modelo de assistência
farmacêutica no SUS. Também conhecido como Farmácia de Minas, este Plano é
dividido em três componentes: Medicamentos para Atenção Primária à Saúde,
Medicamentos de Alto Custo e Medicamentos Estratégicos. Os medicamentos
psiquiátricos, por sua vez, são classificados como medicamentos básicos e
pertencentes à atenção primária, sendo que alguns antipsicóticos e ansiolíticos
são considerados medicamentos de alto custo.
O que propomos aqui é a
reflexão de como o tratamento dos sujeitos em sofrimento psíquico deve ser
conduzido de modo que não ocasione em uma hipermedicação. Os dados acima
indicam que isso está ocorrendo no Brasil. No entanto, a medicalização é apenas uma forma de neutralizar os sintomas do sujeito e não uma forma de cura,
uma vez que não leva em consideração seus aspectos sociais e subjetivos.
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